Jornadas de Sucesso com Suellen Rodrigues
Trajetória profissional
Iniciei minha carreira em 2015. Eu fazia faculdade de farmácia na época e comecei fazendo um estágio voluntário em farmácia hospitalar. E na sequência, eu fiz um curso de toxicologia clínica no Instituto da Criança, no Hospital da Criança. Passei a ser uma estagiária plantonista dentro dessa equipe e fazia atendimentos de emergência toxicológica e, em seguida, fui chamada para assumir uma vaga em um concurso público de nível de ensino médio. Era interessante que, naquela época, porque eu ia trabalhar com dispensação de medicamentos, o que para um farmacêutico era um trabalho de assistência farmacêutica, de proximidade com o público que é interessante. Por diversas questões e principalmente por conta de um atraso de possibilidades de acesso e investimento da família, que era humilde apesar de eu ter tido acesso à educação privada, a família não era de classe média, era pobre.
Eu não tinha um inglês muito bom e demorei para conseguir um estágio na indústria farmacêutica, que era obrigatório para minha formação. Mas finalmente, no fim de 2016,eu consegui e tem uma grande conexão com instituições como o CIEE, que eu consegui ser “pescada” e fazer a entrevista e entrar. Eu entrei na indústria farmacêutica nacional, pela União Química Biolab, que era um grupo único familiar brasileiro. E trabalhei por quase 4 anos em atendimento ao consumidor e farmacovigilância. Na minha evolução, eu já gostava muito dessa área de farmacovigilância por conta do estágio anterior em toxicologia clínica. E aí comecei a batalhar para entrar na área e depois de um longo período, eu entrei em 2009 na MSD, que é onde eu estou hoje e permaneço lá há 14 anos. E passei a ser parte da equipe de farmacovigilância. Eu permaneço por 7 anos e tenho uma evolução muito importante de carreira nesse departamento. Comecei como terceirizada, sem perspectiva de permanecer, mas as coisas foram acontecendo e meu trabalho foi sendo reconhecido. Fui de analista júnior a coordenadora. E nessa trajetória tive umas oportunidades superinteressantes de liderar equipes em auditoria, trazer novidades, contratar pessoas, tanto fixas quanto para projetos especiais. Tive muita oportunidade de participar de projetos latino-americanos e globais na empresa. Fiz parte de uma implementação de dados que está lá até hoje e se chama Argos. E várias coisas bacanas foram acontecendo comigo, viajei para o exterior pela primeira vez como turista, foi a primeira vez que tive a oportunidade de viajar de avião e foi a trabalho. E em 2014 e 2015, me candidatei para um programa que a gente chama de General Management Acceleration Program, que é conectado com o CEO da empresa e tenta puxar os talentos de várias áreas para poder avançar a carreira de um especialista/coordenador para um gerente sênior e gerar um banco de talentos para futuramente virarem presidentes de subsidiária. Fiquei entre os 25 finalistas do programa nos dois anos e foi uma oportunidade grande para que outras pessoas além da farmacovigilância olhassem para o meu perfil. E em 2016, recebi uma proposta da liderança da área médica para ser uma espécie de assessora científica e passei a cuidar de um projeto de muito impacto em saúde pública sobre o uso racional de antibióticos em ambiente hospitalar. E eu pude, entre 2016 e 2018, apoiar vários hospitais pelo país inteiro, cerca de 100 países. E isso proporcionou não só a minha permanência na área médica como também a ampliação da equipe. E em 2018, fui apontada como gestora dessa equipe até 2020, numa área de doenças infecciosas e saúde feminina. E em 2021, me chamaram para outro desafio: trabalhar na área médica na América Latina, onde estou até hoje. No ano passado, fui promovida para Diretora Regional de Valor em Saúde e hoje tenho a responsabilidade de um projeto dentro desse pilar de área médica, que resume a intenção de evoluir as pessoas da área médica para focar ainda mais em ações para que os pacientes tenham acesso aos nossos medicamentos e vacinas. E conforme o lado financeiro foi se tornando uma questão menos problemática, exatamente pelas oportunidades de trabalhar melhor, fui melhorando o inglês, o espanhol, fiz pós-graduação em farmacologia clínica, depois fiz alguns cursos de especialização em diversas áreas. Fiz um MBA em relações governamentais e em 2022, um mestrado em política pública internacional na Queen Mary University of London. Tem todo um paralelo que eu faço justamente pelo investimento que meus pais puderam fazer na minha educação e da minha irmã apesar de serem de origem muito humilde e puderam proporcionar um ensino fundamental como se fosse de classe média e também universidades que eram privadas e isso foi transformando a minha história como mulher negra no nosso país, de abrir caminhos em que eu fui única em muitos ambientes e continuo sendo única no ambiente que trabalho, pois saúde é um ambiente elitizado de estudo e trabalho no nosso país, ainda mais em posições altas. E isso me dá dois sentimentos: de orgulho por chegar onde estou e também de inquietação que é ver essa solidão e identificar que muitas outras pessoas poderiam ter espaço aberto para oportunidade e me doar como mentora voluntária para trabalhar a carreira de pessoas negras e entrar na Top2You há um ano e meio me possibilita com esse trabalho de valorizara experiência das pessoas, compartilhando minha expertise e apoiando o avanço de carreira de mais pessoas que talvez não tenham tido as oportunidades que eu tive ao longo do caminho.
Qual seria a lição mais importante ao longo de sua trajetória?
Não adianta nada eu ter frequentado boas escolas e universidades e ser uma profissional e pessoa que não compartilha conhecimento e que pensa exclusivamente no meu próprio bem-estar e objetivos pessoais. Eu tive dificuldade de entrar na indústria farmacêutica e eu não gostaria que as novas gerações tivessem as mesmas dificuldades e complexidades para entrar no mercado, crescer e se desenvolver como pessoa e como profissional. Então, eu sinto que tenho mesmo que uma pequena contribuição, essa possibilidade e oportunidade grandiosa de compartilhar um pouco e de apoiar as pessoas para que esse caminho não seja tão doloroso e solitário. A Top2You traz essa possibilidade de conexões, de encontrar pessoas diferentes que talvez eu não tivesse contato, que agente de verdade se conecta e pode trocar experiências. E essa é uma via de mão dupla, não sou só eu que compartilho, mas a história, a jornada das pessoas também me traz uma riqueza cultural, de conhecimento, de abrir os olhos para outros cenários que me faz crescer também.