
Desde 26 de maio de 2025, está valendo a nova versão da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que traz uma mudança importante: os riscos psicossociais agora fazem parte do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO).
Com isso, questões como estresse crônico, assédio moral, ansiedade, sobrecarga e jornadas exaustivas passam a ser tratadas com o mesmo peso de riscos físicos, como uma máquina desregulada ou um piso escorregadio.
Por enquanto, a norma tem caráter educativo, ou seja, ainda não há multas para as empresas que não incluíram os riscos psicossociais em seus programas de prevenção.
Na prática, muitas companhias interpretam isso como um tempo extra. Mas será que dá mesmo para esperar?
Esperar ou agir?
Se hoje a norma ainda não pune, a realidade já castiga. E o custo de não fazer nada está cada vez mais alto.
Em 2024, mais de 472 mil trabalhadores foram afastados do trabalho por questões ligadas à saúde mental, o maior número dos últimos dez anos. O aumento em relação ao ano anterior foi de impressionantes 68%, segundo dados do Ministério da Previdência Social divulgados pelo g1.
A atualização da NR-1 chega justamente para tentar mudar esse cenário. Mas, para que isso aconteça, não pode ficar na gaveta por um ano.
Sarita Vollnhofer, CHRO da Alice, avalia que “a mudança normativa por si só não resolve o problema, mas tem o potencial de acelerar a virada de chave para que muitas empresas saiam da lógica de apagar incêndios e passem a olhar a saúde como estratégia de negócio”.
E quando isso acontece, os resultados são visíveis, como aponta a executiva.
“No Pulso RH, pesquisa que fizemos com parceiros, 70% dos colaboradores se dizem mais engajados quando percebem que a empresa se preocupa com sua saúde e bem-estar. Isso mostra que saúde não é custo, é investimento, com retorno direto em produtividade, retenção de talentos e na reputação da marca empregadora.”
Tendo isso em mente, ela defende que este primeiro ano seja encarado como uma oportunidade para começar a implementar uma transformação no ambiente de trabalho.
“É hora de mapear os fatores de risco, ouvir os colaboradores de forma ativa e usar dados para entender onde estão os maiores pontos de atenção, que são individuais para cada empresa”, completa.
O papel estratégico do RH e das lideranças
O que a nova NR-1 propõe é algo estrutural. Exige diagnóstico, plano de ação, indicadores e responsabilidade compartilhada.
Para a gestão de pessoas, isso significa uma ampliação de escopo e influência. “O RH já é, ou deveria ser, protagonista na construção de ambientes saudáveis. O desafio, agora, é aproveitar esse momento para garantir que o olhar para a saúde mental esteja presente nas decisões do dia a dia”, explica Sarita.
Para ela, isso exige capacidade de análise de dados, maior entendimento sobre saúde e fortalecimento da parceria com os gestores da empresa. “Isso pode ser uma alavanca importante para sustentar pautas que antes dependiam mais de sensibilidade do que de obrigatoriedade.”
As lideranças também estão na linha de frente dessa transformação.
Gestores devem estar preparados para reconhecer sinais de sobrecarga, promover conversas abertas e criar ambientes seguros, e é papel do RH apoiar e ajudar a desenvolver esses líderes para que se tornem agentes ativos dessa transformação.
E, claro, sem esquecer de ser o exemplo. “Um líder que cuida de si, que fala abertamente sobre saúde, que participa de iniciativas de bem-estar da empresa e que respeita seus próprios limites, incentiva o time a fazer o mesmo.”
Por fim, a CHRO da Alice defende que cada profissional também deve ser orientado a também assumir o protagonismo sobre a própria saúde, reconhecendo limites, buscando ajuda quando necessário, criando rotinas e adotando hábitos mais saudáveis.
Não espere pelo colapso
A atualização da NR-1 é um marco importante, mas a transformação não depende só da lei. Depende do compromisso coletivo de empresas, líderes, RHs e colaboradores para construir um futuro do trabalho em que bem-estar seja a regra.
Como você e a sua empresa têm se preparado para essa transformação?