“Eu estava nos Estados Unidos com uma atleta que teve o rosto desfigurado por um grave acidente. Quando entramos em uma loja de conveniência, um homem que estava saindo parou, olhou para ela e soltou:
– Oh my God!
O dono da loja ficou constrangido, pediu desculpas. Mas a resposta dela foi tão simples quanto poderosa:
– Não se preocupe. Não é o trabalho dele gostar de mim. É o meu.”
Na semana do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (PcD), Steven Dubner, fundador da Associação Desportiva para Deficientes (ADD) e mentor Top2You, trouxe um relato que escancara o que ainda não queremos admitir: apesar dos avanços, a inclusão ainda é uma promessa não cumprida.
A resposta da atleta resume uma luta que vai além das barreiras físicas. Ela fala de uma batalha interna, de uma força necessária para enfrentar diariamente os julgamentos e a falta de respeito.
E embora a aceitação venha de dentro, como sociedade, o que temos feito para que ninguém precise trilhar esse caminho enquanto enfrenta preconceitos e obstáculos impostos pelos outros?
Por que a responsabilidade de lidar com o preconceito ainda é de quem sofre com ele?
Precisamos mudar.
A gente ainda está no raso
No mundo corporativo, a conversa sobre diversidade está em alta. Mas a inclusão ainda é só um rótulo bonito para botar no site da empresa. Quando o assunto é transformar de verdade, fica tudo no raso.
Então, vamos mais fundo: o grupo Talento Incluir entrevistou 566 pessoas com deficiência. Entre elas, quase metade tem ensino superior completo, sendo que 24% têm qualificações como pós-graduação, MBA, mestrado ou doutorado.
Apesar disso, apenas 2,6% ocuparam cargos de gestão e 2,1% de supervisão no último emprego.
É por isso que não estamos falando só sobre abrir vagas e bater metas. Inclusão de verdade vai muito além: é sobre garantir que PcDs tenham respeito e acesso às mesmas condições de crescer, liderar e serem reconhecidos.
Para isso, muita coisa precisa ser feita. Comecemos pelo básico:
- Campanhas anticapacitistas que façam barulho: chega de tratar deficiência como tabu ou algo “delicado”. É preciso educar de verdade os colaboradores sobre os diferentes tipos de deficiência, desmontando mitos e jogando fora os estereótipos que ainda rondam as PcDs.
- Treinamentos que toquem na ferida: workshops para falar do preconceito inconsciente, do capacitismo e da inclusão. A ideia é criar um ambiente onde o respeito não seja só um discurso, mas uma prática real.
- Acessibilidade sem desculpas: adaptar de verdade espaços físicos, plataformas digitais, ferramentas de trabalho, tudo.
- Canais de denúncia que funcionem: um lugar seguro pra quem quer reportar preconceito ou discriminação sem medo de represálias. E não adianta só ouvir, tem que agir rápido para resolver.
- Acabar com o capacitismo estrutural: revisar tudo. Comunicação, processos internos e decisões do dia a dia. Se algo reforça preconceitos contra PcDs, tá na hora de mudar.
Mentoria para mudar o jogo
E qual o papel da mentoria nessa história?
Quando falamos de empoderar PcDs a crescer, liderar e ocupar seu devido espaço nas empresas — inclusive nos altos cargos —, programas de desenvolvimento de prateleira não são suficientes.
“Tratar todo mundo igual é o mesmo que ignorar a individualidade de cada um”, resume Dubner.
Na visão da Top2You, mentoria de alto impacto é sinônimo de autonomia e personalização.
O mentorado deve traçar a rota para seu autodesenvolvimento a partir da sua realidade e dos seus desafios.
Esse é o caminho para o fim do capacitismo e para a inclusão verdadeira: dar aos PcDs as ferramentas que eles precisam para construir seus próprios caminhos e narrativas dentro das organizações.
Promover conversas que desafiem os demais líderes a rever conceitos ultrapassados também é essencial.
Destravar crenças limitantes só é possível a partir de reflexões profundas e de provocações transformadoras.
Por isso acreditamos que a mentoria é um importante aliado dessa causa tão urgente. A hora de agir é agora.
Que tal começar hoje?