Muito antes de ocupar o cargo de Analista de Segurança da Informação em um dos maiores bancos do país, ou de se tornar o consultor brasileiro com maior experiência na metodologia de Organizações Exponenciais, Francisco Milagres já vislumbrava um futuro moldado pela tecnologia.
Aos 11 anos, ganhou seu primeiro computador e nunca mais deixou de explorar o mundo digital. Fez um curso técnico de processamento de dados ainda na adolescência e, aos 18 anos, trocou o Espírito Santo por São Paulo, onde estudou Ciência da Computação e fez um mestrado em Segurança da Informação na USP.
Essa formação sólida, aliada à curiosidade por entender o impacto da tecnologia no mundo real, abriu caminho para os primeiros desafios profissionais.
Tecnologia e pessoas: um olhar estratégico desde o início
Depois do mestrado, Francisco passou rapidamente por um centro de pesquisa em Campinas e, na sequência, foi para o banco Santander, onde ajudou a estruturar a área de resposta a fraudes e segurança cibernética.
A missão era proteger o sistema bancário, e logo ficou claro que o desafio não era só técnico.
“No banco, meu foco era proteger o sistema, mas, para isso, eu precisava pensar como quem tentaria invadi-lo. A ideia era sempre antecipar os movimentos, entender as vulnerabilidades e, principalmente, considerar o fator humano”, relembra.
Desde então, ele busca soluções que vão além do código: que consideram o jeito como as pessoas pensam, agem e se conectam com a tecnologia.
Mudança para o Sul e o universo das startups
Francisco ficou no Santander entre 2004 e 2006, quando recebeu uma proposta para se tornar gerente na KPMG.
Um dos pontos que o atraiu foi a oportunidade de gerenciar uma área que envolvia governança e gestão estratégica para grandes corporações. Outra vantagem era sair de São Paulo.
Na época, Francisco já estava casado e com planos de aumentar a família, e o cargo na KPMG daria a oportunidade de se mudar para Curitiba, onde ele entendeu que teria mais qualidade de vida.
Mas, mesmo estando longe do caos paulista, ele ainda tinha uma rotina intensa.
“Troquei o trânsito de São Paulo pelos voos frequentes, já que eu atendia clientes nos três estados do Sul, além de São Paulo e de fora do Brasil.”
Chegou a gerente sênior, mas depois de cinco anos na KPMG, Francisco sabia que o próximo passo na companhia envolveria voltar a morar em São Paulo ou no Rio, e isso era algo que não queria.
Foi quando surgiu um convite para se tornar executivo de uma empresa de segurança cibernética, a Ciberbras. Esse era um caminho que o permitiria continuar no Sul, mais especificamente em Porto Alegre.
E o desafio, claro, também era interessante: “A missão era preparar a empresa para receber investidores. Ali, consegui reunir as competências que vinha desenvolvendo desde o início: segurança cibernética, governança e agora gestão de pessoas”, explica.
Quando ingressou na companhia, a equipe era de duas pessoas e, em três anos, passou a 16. “O faturamento saltou de R$ 600 mil para R$ 32 milhões, e nos preparamos para crescer internacionalmente.”
Depois de um ano como executivo na empresa, ele começou a trabalhar com um fundo de investimentos em Florianópolis. Nesse período, dividia sua rotina entre Florianópolis e Porto Alegre e ainda criou a Mirach Ventures, sua própria empresa.
O nome, inspirado em uma estrela da constelação de Andrômeda, carrega o simbolismo de seus serviços: ser um ponto de referência, uma luz que guia companhias que querem crescer com estratégia, tecnologia e inovação.
“Naquela época, muitos colegas me perguntavam como uma grande corporação poderia crescer com a agilidade de uma startup. Eu senti que podia usar as competências que já tinha desenvolvido para ajudar outras empresas e pessoas, espelhando-se no que as startups estavam fazendo”.
Singularity, conexões e impacto global
Foi buscando se aprofundar no mundo das startups que Francisco conheceu a Singularity University, uma instituição do Vale do Silício que forma líderes para enfrentar desafios complexos com o uso de tecnologias exponenciais.
Lá, ele se conectou com líderes do mundo todo, participou da expansão da rede de alumni e realizou o maior evento da instituição fora dos Estados Unidos, em parceria com a HSM.
Foi também por meio da Singularity University que conheceu Salim Ismail, autor de “Organizações Exponenciais” e CEO da instituição. De Ismail, Francisco recebeu uma proposta especial.
“Fui convidado para fazer parte de um grupo de pessoas que ajudaram a criar uma metodologia de crescimento acelerado. Montamos a plataforma OpenExO, começamos com um cliente e, a partir daí, já atendemos cerca de 20 a 30 empresas ao redor do mundo, incluindo companhias de capital aberto e organizações de grande porte, tanto no Brasil quanto fora”, comemora.
Francisco também desenvolveu dois livros junto de Ismail: Transformações Exponenciais (2019) e Exponential Organizations 2.0 (2023).
Mentorias: fonte de escuta, aprendizado e direcionamento
Ao longo dos anos, Francisco já vinha compartilhando conhecimento como professor-executivo convidado em instituições como FAESA e IBTA, além de contribuir em conselhos consultivos de empresas como Unimed, Embracon e Grupo DOC, além de fazer mentorias pontuais.
E em 2021, foi convidado a integrar o time de mentores da Top2You, aprofundando sua atuação direta como mentor.
“A grande vantagem das mentorias é aprender coisas diferentes, incorporar aprendizados de culturas e negócios variados. Isso enriquece qualquer projeto, porque nenhuma transformação acontece apenas dentro do próprio espaço”, afirma.
Antes de qualquer orientação, Francisco busca entender a trajetória do mentorado como um todo. “Gosto de ouvir a história da pessoa de forma aberta. O momento presente nunca é só uma foto, e eu quero entender o filme da vida e da carreira que levou até aquela imagem. O mentorado vai me mostrar o cartaz, mas eu preciso conhecer o trailer”, diz.
A partir desse mergulho, ele ajuda a criar um novo roteiro, com mais clareza, propósito e direção.
Levando clareza para as complexidades da vida e do trabalho
Uma frase que acompanha a trajetória de Francisco Milagres e que se tornou lema da Mirach é: “trazer clareza onde há complexidade.”
Em um mundo saturado de informações, ele acredita que o desafio não está mais no acesso, mas na capacidade de discernir o que realmente importa.
Esse mesmo princípio ele aplicou na própria vida. Após anos de uma rotina intensa, marcada por viagens constantes, altos níveis de estresse e desequilíbrio físico e emocional, Francisco percebeu que precisava reorganizar as prioridades.
E ele se lembra com precisão do momento em que entendeu a urgência dessa mudança. Mesmo em repouso, sua frequência cardíaca chegava a 105 batimentos por minuto e ele estava com 132 quilos. Foi quando ouviu de seu médico: “Se você gerenciar sua vida como gerencia seus clientes, pode viver pelo menos 20 anos a mais com saúde.”
A frase serviu como um alerta definitivo. O mentor reuniu vários profissionais da saúde, passou por uma bateria de exames e estruturou um plano de dois anos. Mudou de cidade e voltou a morar no Espírito Santo, em frente à praia.
Perdeu 35 quilos, cortou o consumo de álcool, começou a meditar diariamente e passou a utilizar inteligência artificial para estudar e interpretar seus próprios dados de saúde.
Hoje, ele vive um novo capítulo. Atende presencialmente apenas quando realmente faz sentido e sempre de forma planejada.
Para os próximos anos, Francisco pretende seguir atuando nos três pilares que mais o realizam: gerar conteúdo, participar de conselhos e desenvolver projetos estratégicos com impacto real.
Também quer continuar inspirando pessoas, não só com suas ideias, mas com o exemplo de uma vida mais equilibrada e saudável.