Neta e filha de retirantes nordestinos, Suellen Rodrigues sempre soube com o que gostaria de trabalhar: cuidando de pessoas. Aos dez anos, pensou em medicina. Aos 16, mudou de ideia e optou pela faculdade de farmácia — e nunca mais olhou para trás.
Com mestrado em Políticas Públicas Internacionais, MBA em Relações Governamentais e reconhecida como uma das Pessoas Afrodescendentes Mais Influentes do Mundo pela ONU, Suellen começou a carreira na rede pública de saúde e se tornou referência na indústria farmacêutica.
A farmacêutica que escolheu estar com pessoas
Seguindo seu objetivo de trabalhar com pessoas, Suellen nunca desejou atuar apenas dentro dos laboratórios.
“Sempre tive a preocupação de não me limitar ao desenvolvimento e pesquisa de medicamentos. Queria entender, na prática, como essas novas tecnologias e tratamentos chegariam às pessoas que mais precisam e se elas realmente teriam condições de compreender o que está sendo oferecido”, explica.
Em 2004, iniciou sua jornada profissional no balcão de um ambulatório na rede municipal de São Paulo. Algum tempo depois, começou a lidar com pacientes internados e pessoas no pronto-socorro, acompanhando se estavam recebendo os medicamentos da forma adequada.
Dois anos depois, foi contratada pela BiOLAB Sanus Farmacêutica, para a área de atendimento ao consumidor e farmacovigilância — um setor que identifica, avalia e busca prevenir efeitos adversos ou problemas relacionados ao uso de medicamentos.
O trabalho de Suellen era acompanhar relatos de consumidores para avaliar se os benefícios dos remédios continuavam superando os riscos.
Com isso, além de receber os feedbacks dos pacientes, ela pôde contribuir com a criação dos parâmetros do setor no país, como a notificação de eventos adversos e avaliação e gerenciamento de riscos associados ao uso de medicamentos.
“Como não havia legislação no Brasil sobre farmacovigilância, participei da construção de diretrizes nacionais, trabalhei com grupos dentro e fora das empresas, inclusive em articulação com instâncias internacionais”, conta.
Intraempreendedora da própria carreira
Suellen deixou a BiOLAB em 2009 e ingressou na MSD. Por volta de 2013, quando já era analista sênior na farmacêutica, ela achou que era hora de mudar de setor e alcançar um cargo de liderança.
“Surgiu uma inquietação de crescer e sair da área regulatória. Bati na trave duas vezes em um programa global de aceleração da companhia. Mas ali eu entendi que poderia costurar meu próprio plano de crescimento”, conta.
Com isso em mente, Suellen estruturou um plano de estudos para desenvolver pensamento estratégico e afinar suas habilidades de liderança.
Deu certo e, em 2015, ela foi promovida a coordenadora de segurança de medicamentos. Um ano mais tarde, se tornou gerente interino e migrou para uma área focada no uso de antibióticos, onde desenvolvia processos para ajudar a reduzir infecções, tempo de internação e garantir o uso inadequado de medicamentos.
Três anos depois, se tornou gerente científico. Na cadeira, pôde coordenar equipes médicas em pesquisas relacionadas à doenças infecciosas, vacinas e saúde da mulher.
“Para chegar lá, usei várias competências de gestão e liderança indireta que desenvolvi ao longo do tempo. Com muita dedicação, chegamos a atuar com hospitais públicos e privados de todas as regiões do país”, diz.
Hoje, é diretora regional de gestão de pesquisa e sistemas de saúde LATAM. “Sob minha liderança para a América Latina, geramos dados que sustentam diálogos com governos e sistemas de saúde, ajudando os países a estruturarem suas estratégias de governança, geração de evidências e incorporação de novas tecnologias”, detalha.
Equidade racial além da representatividade
Apesar do seu sucesso profissional, Suellen teve sempre que lidar com a falta de equidade racial e justiça social.
Por isso, quando conheceu os grupos de afinidade racial na MSD, em 2012, ela mergulhou nas pautas de diversidade, equidade e inclusão.
“Pelos lugares por onde passei, eu sempre fui a única negra. Eu conhecia pouquíssimas pessoas negras no mercado. Então, decidi me jogar nas redes e me conectar com outras pessoas que também quisessem discutir temas raciais”, explica.
Isso permitiu que ela conhecesse outros movimentos fora do seu setor e que pudesse se posicionar como uma “ativista corporativa” dentro e fora da corporação.
Entre os resultados desse trabalho em prol da equidade, a executiva foi reconhecida pela ONU como uma das Pessoas Afrodescendentes Mais Influentes do Mundo em 2023. Em 2024, entrou para a lista EMPOWER Future Leader, criada pela INvolve, consultoria global que ajuda organizações a promover diversidade, equidade e inclusão.
Neste ano, assumiu a posição de Diretora Nacional do MIPAD (Most Influential People of African Descent), uma iniciativa global apoiada pela ONU que reconhece indivíduos de ascendência africana que se destacaram por suas contribuições excepcionais.
De mentorada à mentora
A primeira experiência de Suellen com a mentoria também aconteceu em 2012, dentro do grupo de afinidade racial. Ela foi mentorada por uma gestora negra norte-americana, e isso a transformou.
“Ter esse olhar de alguém de fora foi muito potente. Foi uma aceleração em vários sentidos — no inglês, no contato com uma realidade completamente diferente da minha e em outra área de atuação”, conta.
Suellen vê na mentoria que recebeu o seu ponto de virada rumo às posições de liderança e, hoje, oferece o mesmo apoio e direcionamento para outros profissionais.
Por isso, atua como mentora em várias iniciativas e, desde 2021, integra a rede da Top2You, onde já realizou mais de 70 sessões.
Também concilia a atuação executiva com a formação para conselhos de administração, as mentorias, o compromisso com a equidade e a presença na vida dos familiares.
“Quero ser referência para outros profissionais, mas também estar próxima da minha família, especialmente da próxima geração, como meu sobrinho-afilhado, Artur, e minha afilhada, Maria Eduarda. Que eles cresçam com autoestima, acesso e consciência de tudo o que conquistamos até aqui”, finaliza.