Da dança contemporânea às empresas. Essa foi a jornada de Marcelle que, como mentora, busca criar uma maneira de equilibrar desempenho com qualidade de vida.
Iniciou a carreira de bailarina no início dos anos 90 e passou por companhias renomadas, como a Lia Rodrigues Companhia de Danças, onde conheceu sua parceira de vida e trabalho, Micheline Torres.
A dança trouxe também o primeiro contato com a alta performance. A exigência física e emocional, segundo ela, está mais próxima do corporativo do que se imagina.
“Um bailarino no circuito internacional tem um cotidiano extremamente disciplinado. São mais de oito horas de dedicação por dia, ensaios, compromisso com resultados e hierarquia. Não é trabalhar na frente do computador, mas a rotina era muito parecida”, conta.
Marcelle explica que, no universo das artes cênicas profissionais também há líderes com postura autoritária, ambientes marcados por competição agressiva e culturas tóxicas. E, muitas vezes, tudo isso acontece sem a proteção de um modelo CLT, sem grandes salários ou benefícios.
Para a mentora, é preciso perceber que, independentemente do setor, estamos sempre lidando com seres humanos. “Somos nós que criamos os ambientes tóxicos ou desenvolvemos culturas de alta performance sustentável. Somos nós que escolhemos ser líderes inspiradores ou colaboradores do adoecimento das pessoas que lideramos.”

Uma pausa brusca (e necessária)
Em 2011, Marcelle equilibrava diversos projetos como autônoma: dirigia espetáculos, dava aulas de dança e montava peças.
Mas, apesar do reconhecimento no meio artístico e da rotina agitada, havia uma insegurança que ela não conseguia explicar.
“Assumi várias atividades para tentar suprir essa insegurança e buscar reconhecimento. E não é que eu não era reconhecida — eu era. Fazia trabalhos ótimos e tinha retorno. Mas aquilo não preenchia. O vazio era meu”, relembra.
A sobrecarga e a síndrome do impostor cobraram seu preço. O gatilho foi um convite para dançar em um desfile na Fashion Rio: “Quando recebi a ligação do estilista, comecei a chorar e a tremer. Tive um burnout”.
A crise exigiu pausa de um ano e tratamento médico. Durante o período, além da psicoterapia e da medicação, Marcelle conheceu o Reiki, terapia de canalização de energia, e o ThetaHealing, técnica de reprogramação mental com base energética.
“O Theta transformou minha vida. Padrões muito arraigados, como a insegurança, começaram a se dissolver. Logo eu estava ensinando, formando praticantes, e a espiritualidade se uniu definitivamente à minha trajetória profissional”, diz.
Dor e reconstrução
O caminho de recuperação também passou por perdas profundas. Marcelle e a esposa, Micheline, passaram por duas gestações, da Manu e da Maria, interrompidas por complicações.
“A gente já planejava sair do Rio de Janeiro e morar em Petrópolis. A dor da perda da nossa primeira filha, a Manu, poderia ter nos paralisado, mas entendemos que ainda precisávamos tomar aquela decisão”, explica.
Dessa consciência de que a vida não pode esperar um grande acontecimento, nasceu a Quero Vida Plena, empresa do casal que oferece cursos, mentorias e práticas focadas no equilíbrio físico, emocional, mental e espiritual. Um dos ativos mais populares é o método AutoLiderança Plena, voltado a quem deseja liderar a própria vida com mais consciência.
Hoje, elas também apoiam organizações que buscam desenvolver lideranças mais humanas, integrando qualidade de vida, autoconhecimento e inteligência emocional à cultura corporativa.
Como resultado, já atenderam empresas como Vale, Telefonia, Dasa, Renner e Tim, além de terem impactado mais de 5 mil pessoas. Com workshops, palestras, programas de autoconhecimento e mentorias individuais, a Quero Vida Plena a elevar a produtividade, diminuir a alta rotatividade e afastamentos por motivos de saúde mental, melhorar o clima organizacional, entre outras ações.
Mentoria como espaço de transformação
O convite para ser mentora Top2You veio em 2022. De lá para cá, Marcelle já fez mais de 130 mentorias.
Para ela, a mentoria é tão transformadora para quem recebe quanto para quem guia. “O melhor aspecto de ser mentora, para mim, é saber que fui contribuição para a vida de alguém. E, ao mesmo tempo, me tornar uma pessoa melhor por isso.”
Seu trabalho foca em autoconhecimento, inteligência emocional, gestão de energia, equilíbrio entre vida pessoal e trabalho.
A mentoria dela recebe majoritariamente mulheres, que, em geral, trazem questões relacionadas à insegurança, ao desequilíbrio emocional e à dificuldade de lidar com ambientes machistas.
No entanto, para ela, todos os perfis de mentorado têm algo em comum: “No fundo, o que todos buscam é equilíbrio. Ninguém quer mais uma vida engolida pelo trabalho”.