Nascida em Goiânia, Michelle Bastos Lage Ferreira cresceu entre diferentes culturas. Aos 11 anos mudou-se para Brasília e, na adolescência, viveu cinco anos na França, acompanhando a mãe em seu mestrado e doutorado.
De volta ao Brasil e à sua cidade natal, ingressou no curso de Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Goiás. O plano inicial era a Engenharia Aeronáutica, mas, no vestibular de 1994, o ITA, universidade de referência em engenharia, ainda não aceitava mulheres.
No último ano da faculdade, porém, o cenário econômico e tecnológico do país mudaria sua rota: com o boom das telecomunicações, Michelle conquistou um estágio na Telegoiás Celular.
“Vi um mercado com ótimo potencial econômico e com capacidade de conectar as pessoas”, detalha. O estágio marcou o início de uma trajetória de 26 anos no setor.
Da engenharia à telecomunicação
Depois de se formar, Michelle foi transferida para Brasília. Mais tarde, com a aquisição da Telegoiás pela Vivo, passou algum tempo trabalhando também em São Paulo e Rio de Janeiro.
Em 2006, já como gerente de suporte técnico e diagnóstico, criou uma área de tecnologia dedicada a ouvir consumidores, uma iniciativa pioneira na época. “Diziam que ouvir o cliente era função do call center. Eu defendia que só melhoramos produtos e serviços quando entendemos a experiência de quem usa”, explica. O projeto, muito bem-sucedido, foi replicado em outras operações da Telefónica.

Virando o jogo na TIM
Em 2014, Michelle deixou o cargo de gerente sênior de qualidade e desempenho na Vivo e aceitou o convite para assumir a área de qualidade de rede da TIM.
Apesar do temor de venda da TIM, Michelle escolheu mudar e testar seus conhecimentos em um novo cenário.
A escolha se provou certeira. Michelle liderou a reorganização de processos e o uso estratégico de dados para decisões de investimento que contribuíram diretamente para recuperar a reputação da companhia.
Quatro anos mais tarde, foi para o planejamento técnico e, depois, assumiu a diretoria de gestão e controle, implantando a diretoria de governança na vice-presidência de tecnologia, que integrava rede e TI.
“De uma organização com risco de ser fatiada, passamos a compradora: a TIM foi uma das três operadoras que adquiriram a Oi. Participei ativamente desse processo, que marcou uma nova fase do setor”, diz.
A experiência consolidou sua reputação como autoridade no mercado e como uma líder capaz de unir técnica, estratégia e gestão de pessoas. Ser referência no setor também a levou a ser coautora de seu primeiro livro, Mulheres em Telecom.
E foi em 2025 que Michelle deu seu último passo na TIM, quando era diretora de UX, projetos e processos. Encerrou sua carreira corporativa e iniciou uma nova fase como consultora, levando sua experiência para outros segmentos e empresas.

A chegada da Joanna
Em 2021, grávida de sua filha, Michelle começou a refletir sobre os próximos passos. Joanna nasceu com a síndrome de Edwards (trissomia 18) e passou 74 dias na UTI neonatal.
Contrariando prognósticos médicos que estimavam poucos dias de vida, hoje, com acompanhamento de home care, a pequena Joanna desafia limites diariamente e inspira a mãe.
“Sempre tive um olhar muito positivo diante da vida, acreditando que até situações difíceis nos ensinam algo e nos fortalecem. Levo essa visão também para o meu modelo de mentoria”, explica.
A maternidade ainda transformou a visão de Michelle sobre vida pessoal e profissional. Para ela, equilíbrio não significa dividir o tempo igualmente, mas encontrar o que funciona para cada pessoa e família, em cada momento.

A mentoria como “alimento”
Ainda em 2021, Michelle iniciou sua jornada como mentora na Top2You. A experiência, segundo ela, é um “alimento” semanal.
“Sempre fiz mentoria com minhas equipes, mesmo sem dar esse nome. Também já havia participado do programa de mentoria da TIM e entendi que esse era um caminho natural para mim”, conta.
Paralelamente, ela fez capacitações para atuar em conselhos consultivos e participou de uma imersão sobre gestão na Universidade de Ohio, nos Estados Unidos. Depois, ainda fez uma pós-graduação em Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness pela PUC Paraná.
Seu estilo de mentoria combina escuta, acolhimento e provocações construtivas para que o mentorado reconheça suas habilidades e se aproprie da própria trajetória.
Para Michelle, o sucesso de uma sessão está em ajudar o outro a enxergar caminhos, mas também em fazer com que ele defina o que não quer. “Saber o que não estamos dispostos a aceitar é tão importante quanto saber o que queremos conquistar”, finaliza.
