
Você consegue falar sobre si mesmo sem citar seu trabalho?
Não vale dizer seu cargo, a empresa onde trabalha ou seu título no LinkedIn. Só você.
A verdade é que, para muita gente, essa pergunta é desconfortável. É que já faz tempo que o trabalho se tornou símbolo máximo de valor, pertencimento e status.
O que você faz virou sinônimo de quem você é.
Mas quando o trabalho ocupa sozinho o centro da vida das pessoas, o preço não é muito alto?
A crise da identidade performática
Há algo profundamente humano no desejo de produzir, contribuir, se realizar. Mas quando o trabalho vira a única prioridade, ele começa a corroer outras dimensões essenciais da vida.
“O trabalho tem um papel importante. Ele estrutura o dia, dá propósito, gera contribuição, conecta com outras pessoas. Mas não pode consumir tudo. Não pode ocupar o espaço da saúde, da família, da vida fora da tela. Se isso acontece, gera ansiedade, burnout, relações fragilizadas”, explica Gustavo Gelli, co-fundador e CFO da Tátil Design, conselheiro de startups e mentor Top2You.
Ainda assim, é difícil colocar limites quando tudo ao redor estimula o contrário.
A cultura do “trabalhe enquanto eles dormem” transformou o descanso em culpa e colocou muitos profissionais em um eterno estado de comparação.
Não basta entregar resultados. É preciso parecer bem-sucedido o tempo todo, mesmo que isso custe a autenticidade ou o equilíbrio emocional.
“As redes sociais, por exemplo, viraram um ringue de comparação. Cada story é um highlight de sucesso alheio, como se o valor profissional de alguém estivesse resumido ao tanto que tem e não ao tanto que é. Isso distorce completamente a noção de carreira e de conquista real.”
Não se vê o processo, só o resultado. Não se vê o esforço, só o prêmio. É uma corrida sem linha de chegada.
Mas é necessário, e possível, mudar esse cenário.
Recolocando o trabalho no seu devido lugar
Toda essa discussão não sugere abandonar o trabalho ou tratá-lo como inimigo.
A provocação aqui é como recolocar o trabalho dentro de uma vida mais ampla, onde caibam outras dimensões igualmente importantes: afeto, saúde, tempo, lazer, cuidado, comunidade.
É entender que o valor de uma pessoa não se mede pela entrega semanal. E isso exige uma mudança profunda pessoal, cultural, estrutural.
Do lado das empresas, passa por criar ambientes que respeitem o tempo humano, que ofereçam segurança, escuta e desenvolvimento real, e que apostem em medidas como jornadas flexíveis, ações ligadas à saúde mental e políticas de desconexão.
Do lado de quem trabalha, exige desaprender o culto ao sacrifício e reaprender a viver com inteireza.
Gustavo sugere começar com pequenas atitudes do dia a dia: estabelecer um horário para encerrar o expediente, desligar as notificações fora do trabalho e reservar momentos de pausa na agenda. “Podem parecer ações pequenas, mas ajudam a reconquistar o seu tempo e a sua atenção.”
Ele também destaca a importância de aprender a recusar demandas com respeito, como um gesto de autocuidado e profissionalismo. Evitar a multitarefa é uma escolha estratégica: “Produzimos melhor quando focamos em uma coisa por vez”.
Por fim, cultivar atividades fora do trabalho que tragam energia e bem-estar ajuda a manter a mente saudável e amplia a visão de mundo, o que, inclusive, melhora o desempenho profissional.
“No fim, equilíbrio não é dividir o tempo milimetricamente. É conseguir estar inteiro onde você está, com presença e clareza de prioridades.”
Liderar com equilíbrio é liderar melhor
A primeira mudança é interna.
Quando deixamos de enxergar o trabalho como medida única de valor, começamos a resgatar outras fontes de sentido.
Isso não significa abrir mão de ambição ou comprometimento, mas redefinir o sucesso com mais autonomia e humanidade.
O trabalho continua sendo uma parte muito importante da vida, mas é isso, uma parte.
“O papel do trabalho é ser um espaço de expressão e realização, mas equilibrado com limites, pausas e liberdade. Um trabalho saudável é aquele que soma à vida, não substitui a vida”, frisa Gustavo.
Para transformar essa visão em prática, é preciso romper com modelos ultrapassados e exercer uma liderança que entende que cuidar das pessoas é também cuidar dos resultados.
Na Top2You, a mentoria é vista como um caminho poderoso para esse desenvolvimento.
Ao oferecer escuta qualificada, provocações estratégicas e apoio prático, as mentorias de alto impacto ajudam líderes a superar desafios e a desenvolverem uma relação mais saudável com o trabalho.
Essa transformação pessoal se reflete nas equipes e nos negócios.
Pessoas lideradas por gestores conscientes de seus limites e propósitos tendem a ser mais colaborativas, resilientes e produtivas. E ambientes saudáveis favorecem a inovação, fortalecem o engajamento e reduzem o turnover.
Investir no desenvolvimento e no bem-estar não é apenas uma escolha ética; é uma estratégia inteligente para construir empresas mais sustentáveis, adaptáveis e preparadas para os desafios do futuro.