
O que significa ser uma mulher bem-sucedida?
Para muitas pessoas, o sucesso vem acompanhado de uma expectativa: dar conta de tudo, dentro e fora do trabalho.
Gerir equipes, entregar resultados, cuidar da casa, da família, manter a saúde física e mental – tudo isso sem demonstrar sinais de cansaço.
A “mulher guerreira”, aquela que faz tudo com excelência, virou um ideal. Mas, por trás dessa imagem, existe um preço alto.
“Esse estereótipo reforça um padrão inconsciente de que a mulher precisa estar constantemente em batalhas para validar sua identidade.” Quem explica é Micheline Torres, LinkedIn Top Voice, terapeuta, co-criadora do método Autoliderança Plena para alta performance sustentável e mentora da Top2You.
Micheline explica que, à medida que mulheres avançam na carreira, podem surgir ainda crenças limitantes e inseguranças, como o medo de não serem boas o suficiente ou de não pertencerem àquele espaço.
Isso, somada ao machismo estrutural e à pressão social, faz com que muitas delas sintam que precisam desempenhar perfeitamente todos os papéis dentro e fora do trabalho.
E que nunca podem pedir ajuda para isso, é claro.
Como consequência, sete em cada dez executivas brasileiras afirmam que a alta demanda profissional afeta sua vida pessoal e 55% relatam esgotamento físico e mental, de acordo com a pesquisa KPMG Global Female Leaders Outlook 2023.
Trabalho, casa e um tempo que não existe
Para muitas mulheres, quanto mais sobem na escada corporativa, maior é a tendência de acumularem demandas profissionais e pessoais de forma desproporcional em relação aos homens.
E se elas têm menos tempo para o lazer e descanso, pior é sua performance no trabalho, já que a falta de descanso adequado afeta a tomada de decisão, aumenta os níveis de estresse e impacta o desempenho profissional.
Além disso, mulheres que acham que precisam dar conta de tudo frequentemente assumem responsabilidades excessivas, o que impede o desenvolvimento dos times que lideram e limita a inovação.
No escopo geral, isso prejudica a produtividade e gera custos para as empresas.
No escopo pessoal, está o burnout.
Segundo Micheline, mulheres sobrecarregadas tiram de duas a três vezes mais licenças médicas por estresse – e isso acontece, na maioria das vezes, quando já não aguentam mais.
“Não há separação entre vida pessoal e profissional: o que afeta um lado inevitavelmente repercute no outro. Alta performance no trabalho só acontece se vier acompanhada de qualidade de vida”.
Como quebrar o ciclo da exaustão?
Organizações que entendem que o bem-estar das mulheres impacta diretamente o desempenho e o engajamento de seus times conseguem reduzir drasticamente os pedidos de licença e turnover.
Mas, para isso, devem ter um olhar sistêmico sobre essa questão. Algumas ações podem ajudar a reverter esse cenário:
- Redefinir sucesso: produtividade não é sinônimo de exaustão. Promover conversas abertas sobre saúde mental e revisar expectativas é essencial.
- Compartilhar responsabilidades: dentro e fora do trabalho, delegar não é sinal de fraqueza. Um verdadeiro líder não faz tudo sozinho.
- Pedir apoio sem culpa: quebrar o estigma de que pedir ajuda significa incompetência é o caminho para criar uma cultura mais saudável.
Micheline também reforça que trabalhar a mentalidade e os vieses inconscientes das profissionais é fundamental.
Para isso, a mentoria é uma opção interessante.
“Mentoria é uma das ações mais eficazes para apoiar mulheres no equilíbrio entre carreira e vida pessoal. Programas que trabalham crenças limitantes, gestão emocional e mentalidade de crescimento ajudam as mulheres a ascender profissionalmente sem adoecer”, detalha.
De acordo com a terapeuta, quando uma gestora aprende a gerenciar sua carreira com qualidade de vida, esse aprendizado se reflete em sua equipe e cria um ambiente organizacional mais saudável e produtivo.
E o primeiro passo para isso pode ser investir em um programa de mentoria — não apenas como um suporte individual, mas como uma estratégia para transformar a cultura corporativa.
Quando as mulheres deixam para trás a crença de que precisam carregar tudo sozinhas, elas não apenas crescem com mais leveza, mas também abrem caminho para uma nova forma de liderança: mais estratégica, mais eficiente e verdadeiramente sustentável.
Vamos juntos nessa direção?